terça-feira, 21 de julho de 2020

Crítica | Abbey Road (1969), The Beatles




Nota: 5/5

            Se alguma vez precisarem de uma ideia de como acabar com uma banda em grande, Abbey Road é o melhor exemplo de todos. Na minha viagem pela obra lançada pelos The Beatles, que não tem sido muito pela ordem cronológica, descobri um pequeno álbum chamado Abbey Road, e rapidamente arrependi-me de não gostar dos The Beatles quando fui a Londres em 2015 e não ter tirado uma fotografia a atravessar a infame passadeira da Abbey Road. 
            Mas vamos falar sobre a música. Abbey Road tem a canção que fez com que eu começasse a ouvir The Beatles, apesar de eu ter passado anos a dizer que os achava irritantes (o quanto eu estava enganada). 
            O álbum começa com "Come Together", que é notável particularmente pela parte instrumental do que a vocal. “Come Together” é uma expansão de “Let’s Get It Together”, uma canção que John Lennon originalmente escreveu para a campanha de Timothy Leary contra Ronald Reagan. Seguidamente, vem “Something”. Quem me conhece sabe que o meu coração tem um lugar especial guardado para o George Harrison, e em Abbey Road não deixa de ser exceção. “Something” foi a canção que me fez gostar dos The Beatles e que me fez perceber que o meu preferido era o George. A simplicidade da canção cativou-me, o encadeamento harmónico é simplesmente genial para uma balada e a poesia faz o seu trabalho de nos deixar de coração cheio (a Pattie Harrison foi uma sortuda por ter esta canção escrita para ela). E claro que fiquei desapontada quando o Frank Sinatra disse que esta era a sua canção preferida de Lennon/McCartney, mas ao menos posso concordar que é uma das melhores canções de amor alguma vez escrita. “Maxwell’s Silver Hammer” e “Oh! Darling” são as faixas seguintes, escritas por McCartney. Estas canções lembram-nos das composições precoces de McCartney, no início da carreira da banda, e conseguem adaptar-se bem ao “novo som” do fim dos anos 60 / início do anos 70. “Octopus’s Garden” foi a segunda e última canção com autoria de Ringo Starr que encontramos na discografia dos The Beatles, apesar de grande parte da instrumentação e harmonização ter sido feita por Harrison. A canção é bastante simples, a melodia não tem muito o que se dizer, mas definitivamente ficamos a sentir que gostávamos de ouvir o Ringo a cantar mais vezes. E, mesmo a acabar o Lado A, vem “I Want You (She’s So Heavy)”, canção de Lennon que o próprio escreveu sobre a sua relação com Yoko Ono. Esta canção foi das primeiras que ouvi da banda, e tenho de admitir que fiquei confusa ao não conseguir identificar se era o Paul ou o John a cantar. No entanto, tanto a parte instrumental tanto a vocal impressionaram-me, e a participação especial de Billy Preston no órgão dá-lhe algo de especial.  
            O Lado B começa com “Here Comes The Sun”, a segunda e final canção de Harrison no álbum. Ironicamente, lembro-me de ter ouvido esta canção pela primeira vez quando era criança e vi o "Bee Movie" ("A História de uma Abelha"), algures em 2007. A minha primeira impressão foi que a canção me trazia alegria, talvez um bocado influenciada pelo filme. No geral, é muito difícil não cantar com o George. De seguida, temos "Because", escrita por Lennon, quando ouviu a Yoko Ono a tocar o primeiro movimento da "Moonlight Sonata" de Beethoven (e posso dizer também já o toquei!), e contém harmonias a três partes, cantadas por Lennon, McCartney e Harrison, que depois foram duplicadas. A seguir, temos o famoso medley de oito short songs, escritas entre Lennon e McCartney, também conhecida como "The Long One". Começa com uma das minhas preferidas, "You Never Give Me Your Money", uma balada de piano escrita por McCartney, com solos de guitarra de ambos Lennon e Harrison. "Sun King" vem a seguir, escrita por Lennon, e encontramos semelhanças com "Because", novamente por causa das harmonias vocais de Lennon, McCartney e Harrison. "Mean Mr. Mustard" e "Polythene Pam" são as faixas seguintes, também escritas por Lennon, e que completam-se uma à outra em relação à letra. A seguir, temos quatro canções escritas por McCartney, "She Came in Through the Bathroom Window", "Golden Slumbers" (outra que é das preferidas), "Carry That Weight" (que traz de volta temas de "You Never Give Me Your Money"), e acabamos com "The End", literalmente. Em "The End", a letra é só uma frase, encontramos o único solo de bateria de Starr em toda a obra dos The Beatles, e cada um dos guitarristas teve o seu tempo de solista também, quase a simbolizar a partida de cada músico para a sua própria direção. Mas o álbum termina realmente com "Her Majesty", de McCartney, uma canção de 26 segundos que McCartney gravou quando chegou mais cedo que os outros ao estúdio. Estas pequenas canções, apesar de terem todas sido escritas em épocas diferentes, com contextos e sonoridades diferentes, de alguma maneira conseguiram funcionar bem como um medley, e admito que não consigo ouvir só uma delas. 
            Em conclusão, este álbum superou todas as minhas expectativas, fez-me gostar ainda mais dos The Beatles e com ele aprendi mais sobre o papel que o produtor, George Martin, teve na carreira da banda. Foi o último álbum que eles lançaram enquanto ainda estavam juntos, e marca o final de uma era, de um grupo que viria a ser um dos mais influentes na história. 

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Crítica | Revolver (1966), The Beatles





Nota: 4/5


   Ao entrar no mundo que é os The Beatles, fiquei intrigada com a quantidade de álbuns que tinha ao meu dispor, sem saber por onde começar. Tinha começado a ouvir a música deles a partir do YouTube, como um método de me ajudar a concentrar no estudo durante a época de exames. Numa playlist das suas canções mais conhecidas, e fiquei extremamente pegada a uma delas, Eleanor Rigby. Era algo diferente àquilo que eu tinha ouvido deles anteriormente; Eleanor Rigby contava a história de uma mulher solitária, com a voz de Paul McCartney a narrar e um octeto de cordas a acompanhar. 
   “Revolver” tinha de superar muitas expectativas. O seu antecessor, “Rubber Soul”, de 1965, trouxe um novo som à banda, com a introdução do sítar por George Harrison em Norwegian Wood (This Bird Has Flown). “Rubber Soul” foi um ponto fulcral na carreira dos The Beatles, onde eles começaram a utilizar o estúdio como um instrumento e onde deixaram sua criatividade ir mais longe (com a ajuda das drogas, claro). “Revolver” também marcou a entrada dos The Beatles para a reforma como live performers. Com isso, finalmente conseguiram gravar um álbum completo sem interrupções de tournés pelo meio, e conseguimos reparar que eles tomaram proveito desse aspeto e em “Revolver” vemos um novo uso da tecnologia musical, como loops de fita e gravações invertidas; o exemplo mais notório neste álbum é a última faixa, Tomorrow Never Comes. 
   Os singles que saíram deste álbum foram Eleanor Rigby Yellow Submarine, a canção que originou o álbum e filme precedentes de 1968 com o mesmo título. Yellow Submarine é a estrela deste álbum, tendo sido escrita originalmente por McCartney com intenção de ser uma canção para crianças, como um veículo para o alcance vocal limitado de Ringo Starr, o baterista da banda. Para mim, a verdadeira estrela é Eleanor Rigby. Tendo estudado música clássica toda a minha vida, ouvir um octeto de cordas, e só um octeto de cordas a acompanhar um cantor num ambiente não erudito, foi algo que mudou a minha perspetiva em relação à banda. Outras faixas que tiveram a minha especial atenção e interesse foram TaxmanLove You To (tenho de admitir que tenho um soft spot quando se trata das canções do George Harrison) e Good Day Sunshine
   O único ponto que perde é o facto de ser um álbum relativamente pequeno. Tem apenas 35 minutos de duração; as canções são fantásticas, mas admito que algumas tinham o potencial de ir mais longe.
   Em comparação aos álbuns que o precederam, "Revolver" definitivamente é um ponto de viragem na sonoridade dos The Beatles. Deixaram aquele típico som dos anos 50, as canções com os mesmos quatro acordes, e foi apenas o início daquilo que veio a ser a melhor época produtiva dos quatro rapazes com cortes de cabelo à tigela.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Crítica | Bohemian Rhapsody (2018), dir. Bryan Singer

Nota: 6/10




    Desde que o primeiro teaser trailer saiu, o Bohemian Rhapsody tinha o potencial para ser um filme gigante, que retrata a vida (e, subtilmente, a morte) do vocalista da banda britânica Queen, Freddie Mercury. Apesar da vida de Mercury ter sido marcada pelas one night stands, o filme tenta retratar a vida da banda, quando na verdade, centra-se no vocalista. 
     Descobrimos Freddie Mercury como Farrokh Bulsara, que nasceu em Zanzibar, na Tanzânia. Como ele conheceu Brian May e Roger Taylor (e, posteriormente, John Deacon, mas essa cena foi eliminada do filme, para meu desgosto), e como quatro homens com backgrounds diferentes (sendo que Mercury estudou design, May astrofísica, Deacon eletrónica e Taylor medicina dentária) se tornaram na banda que agora conhecemos como Queen
     Antes de ver o filme, estava à espera que ele pudesse mostrar-me a vida desta banda que conheço e admiro desde a infância. É verdade que mostrou, mas a história foi comprimida de tal maneira que o filme fez parecer que o primeiro álbum dos Queen foi o A Night At The Opera, quando, na verdade, esse já era o quarto. Contém imensas referências históricas erradas, especialmente cronologicamente. Mais ou menos a meio do filme, apercebemo-nos que estamos em 1980, e o Brian May compõe a We Will Rock You, quando, na verdade, a música está presente no álbum News of the World, de 1977. E também não é verdade que os Queen se separaram para que o Freddie Mercury pudesse gravar o seu primeiro álbum a solo, aliás, enquanto o Mr Bad Guy estava em produção, estava também o The Works da banda (e não nos esqueçamos que o Brian May e o Roger Taylor também lançaram álbuns a solo enquanto tocavam e faziam tours com os Queen). Mas aquilo que realmente me deixou estupefacta, pelo facto de terem posto isso no filme, é, quando o Freddie organiza uma festa na sua casa nos anos 80, ouvimos de fundo a Can’t Touch This do MC Hammer, uma música que só foi lançada em 1990. 
     O filme focou-se tanto na vida um tanto fantasiada do Freddie Mercury e em recriar a atuação icónica da banda no Live Aid em 1985, que alguns detalhes importantes sobre a carreira da banda passaram ao lado, perdendo, assim, um bocado da ”arte“ que eu esperava no filme. 
   No entanto, o filme apresenta um bom elenco, que atuou belissimamente e que era extremamente semelhante aos verdadeiros membros dos Queen. Representou bem o génio musical de Freddie Mercury e a sua bisexualidade, algo que o próprio cantor escondeu durante muito tempo da sua carreira, e, como já estava à espera, a banda sonora é épica, como sempre foi durante anos e, agora com o filme, vai tornar-se ainda mais eterna.